sábado, 3 de agosto de 2013

Pela Janela


Um dia você acordará e não reconhecerá a pessoa deitada ao seu lado. Não lembrará da cor dos olhos, tão pouco do doce gosto do beijo ou da textura dos lábios. Não lembrará da temperatura da pele e tão pouco os detalhes escondidos naquele corpo. Não lembrará do cheiro do cabelo, tão pouco do universo de faces daquela criatura.
Você se levantaria como num dia qualquer, amanhecendo. Você como em um surto de raridade,  haveria acordado mais cedo com uma sensação de vazio latejando dentro de você, como se tudo estivesse incompleto e apenas o zelo para com teu berço te acalmaria ou te faria esquecer do cotidiano lá fora. Mas teu berço cresce e pede por rua. Você fita sua frente, sem olhar para os lados, alto ou baixo. Ainda assim, algo te incomoda e você fica inquieto, andando de um lado para o outro e por toda a casa, tentando procurar alguma coisa que você sabe que não poderia estar ali. As aventuras envaidecidas não te satisfazem mais.
Por fim, você pega o celular e passa obstinadamente por toda a sua lista, procurando alguma coisa que você ainda teimaria em esconder. Você liga e o número havia mudado e com lágrima nos olhos você olha pela janela batendo contra o vento e se aproxima lentamente e olha para o lado de fora.


As coisas mudaram, o azul do céu não era mais tão claro! Lembravam outros olhos refletidos com flores vermelhas ao fundo. Um sorriso de lado, apaixonado e ainda esperançoso. Vivo como nunca. O gosto da liberdade escrita nos olhos de dois embolados. A vida correu para seus lados distintos, como se estivessem torturando-a, machucando-a.


A sensação de desespero corre entre seu peito, viaja dentro do seu sangue até chegar no seu coração, que acelera a ponto de sucumbir a qualquer momento. A vontade de sumir é um invasor, já morador... Sumir... Mas sumir com quem? Logo vem a vontade de dormir. O cansaço físico e mental é quase mortal, um peso impossível de se carregar. Logo depois, você cai no sono, pois é no sonho que você encontra outros horizontes e a sua realidade é simplesmente aquela que um dia, você e seu amor dos cabelos negros almejaram juntos, mas que no outro dia, a dúvida, o medo e a insegurança do jeito que nasceram pra ser, concluíram seus trabalhos, arrancando de ti o que você não conseguiu lutar para ter. Você lembrou que não se planeja o futuro pensando no passado. Os olhos azuis dela, haviam se revertido em seu manto de solidão.

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