sábado, 3 de agosto de 2013

Uma Navalha de Vida



"Posso ver que meus olhos não se fecharam no reflexo do susto. O peso da minha lágrima foi maior que o peso da consciência. Não me atrevo a começar me moldando para o seu mundo. Vestindo roupas indecentes e uma maquiagem forte no rosto imundo. Valho muito mais à pena, valho mais que cinco minutos e mais alguns centavos."
Assim ela escreveu com um lápis quase sem ponta, negando.

Não se fatia a liberdade e nunca se diz: “Eu não tive outra opção", e sim "foi essa a opção que escolhi para viver". Se parar de sonhar, aí sim... Só bastaria vender sua alma ao diabo, pois o resto já havia vendido e revendido diversas vezes.


O que lhe impede de tirar-lhe a vida medíocre é o orgulho de carregar um filho nos braços e ainda não tê-lo abandonado em uma lata de lixo. Um menino bonito, com traços de ninguém ou quem sabe, traços de todos que já passaram por ela com o nome de "quem?".

Um caso de amor seria fatal. Ela já havia comprado o ticket de ida sem volta, além da revolta, nada mais lhe era de direito, a não ser alguns resmungos e choros que poderiam ser usados contra ela no tribunal. Sem saber o que fazer, foi fazer o que menos sabia, pegar "emprestado" a longo prazo, além de indeterminado. Seu filho de ninguém, havia sido dado para alguém, ou talvez, vendido para um desconhecido. É o que andam dizendo por aí: 'Tal mãe, tal filho...' Ele sim não tinha opção, apesar de que, ela também não. Morre deitada no chão, vendo o céu se apagar quadriculado, com um lápis na mão, inventando perdão para consolar sua autotortura. Enquanto que o moleque cresce e é "desovado" por não ter levado o bagulho no lugar combinado. Garoto errado e bastardo.

É como dizem por aí: tal mãe, tal filho... Morreram juntos e sem saída, se despediram da navalha que era a vida.

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