terça-feira, 5 de abril de 2016

Atos osmóticos



Sabe aquele extrato asqueroso que você espera nunca encontrar dentro de você?
Então, algumas pessoas tem o dom de extrair essa parte podre do seu eu. Aquela parte que já passou da validade e que fede quando você mexe.


Por mais que as pessoas tenham o dom natural de se intitularem inocentes, elas preferem sempre apontar os dedos e dizer que se essa merda toda saiu de você é porque a culpa é somente sua, já que toda essa porcaria te pertence. E uma lista de “Seja” cai no seu peito como se quisessem moldar o melhor da sua pessoa usando equipamentos de antiguidade.


É como se fosse assim: “Vamos forçar e forçar para ver até onde ela pode chegar”. Quando finalmente essa parte que ninguém deseja conhecer aparece, você se torna aquela criatura asquerosa e espelhada somente com defeitos.

E é cansativo você conviver com pessoas que acham como você deveria viver sua vida. Como se suas condutas fossem exemplares para uma sociedade indulgente. Daí passam sua vida repostando coisas nas redes sociais que desejariam ser ou ter. Compartilhando filosofias de moralidade que só funciona numa mente muito pouco criativa, e que na realidade só serve de referência. É tipo os desejos de ano novo, quando você diz: “Vou ler pelo menos 20 livros este ano”, e chega no ano seguinte, você não leu um. Mas a sensação de desejar coisas novas no ano novo é muito agradável, quase reconfortante. Esses compartilhamentos servem para um auto convencimento de que você é uma pessoa decente. 


Eu morro de rir quando vejo aquelas pessoas que postam assim: “uma semana abençoada à todos”. Eu tenho certeza que isso é apenas um ato osmótico! Que vida paralela é essa que a gente aprendeu a viver desde que aprendemos a controlar a vida dos outros através de um aparelhinho que agora não tem mais botões? As pessoas postam tudo isso e mais tarde falam do cabelo daquela, do corpo da outra, da conduta da beltrana. Porque viver somente suas vidas é simplesmente maçante demais. Por isso que o BBB faz tanto sucesso! Já parou para pensar nisso?


Olha que eu nem entrei no mérito das opiniões políticas porque isso daria uma bíblia em forma de peça teatral de comédia. Viver essas redes tem me dado tanta preguiça. O que não impede todas as críticas e argumentos, até muito pertinentes, diga-se de passagem, sobre eu ser artista e ter um grande recurso em mãos que é a internet.


No entanto, como se faz quando você percebe que as pessoas te dão preguiça de viver? É tanta barbaridade que você lê dentro da internet que parece que vivemos num filme de terror paródico. Todo esse “culhão” que as pessoas parecem ganhar me lembra muito de quando eu pegava o ônibus para voltar da escola. Eu via aqueles moleques que zoavam todos na rua para tentar se exibir para os amiguinhos tão pouco civilizados. Aquela coragem que só pinta quando você está com idiotas, como você, ao lado. Eu fiz isso. Sim, eu sou uma idiota! A única diferença é que eu tenho plena noção disso e assumo ser, e principalmente assumo que isso não é nada original ou espontâneo. Uau! Eu sou melhor que você neste aspecto? Mas é claro que não!


Não é novidade para ninguém que o ser humano passa a vida inteira tentando se provar algo que nem ele mesmo sabe. Ele quer ser o exemplo da internet, ele quer ser o popular da galera, ele quer ser o irreverente, ele quer ser um pouco louco só para que as pessoas fiquem surpresas com suas atitudes tão previsíveis. Pois bem, quando alguém chega para a criatura e diz: “você é louco”, a criatura vibra, como se fosse um troféu de irreverência  disfarçando a pacacidade nascida com o sujeito.


Então eu me pego dizendo aquilo que as pessoas querem ouvir só para não encherem o meu saco. Me pego agindo feito uma velha que mora num apartamento solitário e a única coisa que ela trata bem são seus gatos.


Ainda assim, as pessoas pedem o melhor de mim e se o melhor de mim significa ser uma pessoa condescendente, então lá vamos nós. Porque uma palavra resume meu relacionamento com as pessoas: “Preguiça”.


Ai você pode estar pensando: “nossa amiga, você precisa de tratamento”. Ah claro! Eu preciso de tratamento porque digo as verdades que estão me encurralando e me deixando maluca? Enquanto você passa seu dia atualizando seu facebook para saber a novidade ácida que vai te fazer compartilhar um monte de besteira na rede.


Hoje me vejo evitando pessoas só para não ter que me forçar a puxar um assunto, ou só pelo simples fato de não estar afim de me sentir desconfortável quando o assunto acabar. Claro! Existe aquela parcela de pessoas que realmente me faz rir e que me faz esquecer de toda a preguiça que é conviver com pessoas “postiças”. Até eu tenho preguiça de mim mesmo, quando me vejo repetindo os atos dessas pessoas. Atos osmóticos.


Então sim, talvez eu esteja louca, ou simplesmente esteja de saco cheia de gente cheia de coisa para falar só que com mentes tão vazias. Pessoas incapazes de trazer aquele culhão para o mundo real. O mundo onde pessoas olham nos olhos e criticam, e são criticados com argumentos e não compartilhamentos.


Na vida real, você não pode fazer uma citação sem fonte pertinente, só porque ela apareceu no seu feed e você pensou: “nossa, tudo a ver com o momento que estou vivendo agora”. Mano! Você é incapaz de criar... e por isso que 99% dessas pessoas são incapazes de discutir verbalmente com outros, pois não possuem o suporte dos seus compartilhamentos que a internet providencia.  


Então, sim! Chame-me de pessimista se você quiser, ou então de antissocial. Eu prefiro antissocial. Não que eu seja melhor do que ninguém, porque eu não perco tempo imaginando como devo analisar minha conduta referente a outras pessoas. É só cansativo ver as pessoas analisarem a minha conduta referente às elas mesmas.  Por isso que dei adeus a diversas pessoas que se diziam isso e aquilo meu, que na realidade nunca foram e nunca serão. E eu simplesmente aprendi a esquecê-las por completo. Como se elas nunca tivessem existido. Dessa maneira, quando as pessoas me perguntam, eu digo: “desculpe, essa pessoa não faz mais parte do meu meio social. Não sei nada da vida dela.” É por isso, que não passo a minha vida tentando agradar todas as pessoas a minha volta. Porque, não importa o quanto eu tente, as pessoas que eu realmente me importo são as que menos reparam que faço de tudo para agradá-las. Então, se você quer tentar ser alguém, seja você, da forma mais podre, ácida e asquerosa que você possa ser. Pelo menos, você está tirando uma verdade de você. Por pior que ela seja. Você não está se escondendo por de trás de um compartilhamento ou das suas frustrações e falta de coragem para viver o mundo real.


Eu estou usando a internet agora para dizer isso porque acho que me expresso melhor escrevendo do que falando, mas se eu pudesse dizer tudo isso numa palestra em um teatro lotado de viciados em rede social, ah... eu faria.


Por isso, ao invés de você ficar pensando agora se o que eu escrevi foi apropriado ou não, ou se eu pensei em você ao escrever este texto, quer um conselho? Abra sua janela, olhe para fora e respire bem fundo e veja a maravilha que a vida te proporciona. Nem tudo está relacionado a você, nem tudo está ligado a você, o que não quer dizer que você não possa tirar um proveito disso. 

Beijos, Rivotril.

Nenhum comentário:

Postar um comentário